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Imaginei este espaço para a troca de informações a respeito dos diversos tipos de hobbies. Para mim, cozinhar degustando uma boa bebida, para outros, futebol, filmes, ler um bom livro. Para meu filho, colecionar álbum de figurinhas. De qualquer forma, seja qual for o hobby, sempre será uma forma agradável de se passar o tempo quando não se tem o que fazer ou quando já se fez o que tinha de fazer.
Vamos trocar informações tais como onde encontrar determinado produto, qual a melhor forma de utilizá-lo, receitas, enfim, tudo o que ajudar a tornar nosso tempo ocioso mais prazeroso.
Sejam bem-vindos, sugestões são bem-vindas e vamos iniciar a brincadeira.

domingo, 3 de abril de 2011

Livro - O Dilema do Onívoro, Michael Pollan

Terminei esta semana de ler. Fala sobre alimentos. Aqui vão algumas considerações a respeito e que achei interessantes:
Primeiramente me chamou a atenção a ligação entre comida e guerra. Os Estados Unidos se metem em tantas guerras que já não sabem o que fazer com o excedente delas. Bem, não sabiam, pois as sobras dos produtos químicos usados na Guerra Química estão sendo usadas para produzir fertilizantes e pesticidas.
Segundo, o processo de barateamento de calorias: como 1 caloria de um alimento natural é transformada em 10 ou mais calorias de alimentos processados. Isso explica porque as embalagens estão cada vez maiores com preços cada vez menores. Em parte, porque a matemática das calorias  é invejável. Vamos tomar como exemplo a Coca-cola. 1 litro de Coca-cola custa 1 dólar. Aí entra o processamento de alimentos e consegue-se que 1 litro passe a custar 0,70 cents. Mas quem bebe um litro de refrigerante não vai beber 2 litros só porque diminuiu 0,30 cents. Agora vem o trabalho de marketing: aumenta-se o tamanho da embalagem, passa-se a vender em garrafas pet de 2 litros a 1,50 dólares. Perceberam? O consumidor fica feliz em comprar não mais 2 litros por 2 dólares, economizando 0,25 cents por litro, ou 0,50 cents no total e a empresa, que poderia vender por 0,70, lucra ainda outros 0,05 em cima do feliz consumidor.
Nos EUA, são necessárias duas calorias de fertilizantes sintetizados a partir do petróleo para produzir uma caloria de milho. E como o gado bovino é alimentado com milho, quase um barril de petróleo é consumido para cada animal abatido. Os excedentes da produção de milho estão na origem tanto da abundância quanto da obesidade. Os subsídios governamentais são generosos, o alimento industrializado tem preços baixos, mas dão origem aos altos índices de obesidade que custam algo em torno de 90 bilhões de dólares por ano em despesas médicas. Ou esses excedentes atravessam a fronteira do México, onde liquidam com os pequenos produtores.
Toda uma complexa cadeia de interesses gira em torno da produção de milho, impedindo que cessem os subsídios. A insensatez do agronegócio é objeto deste livro e certamente é um importante alerta para um Brasil que se pretende transformar numa Arábia Saudita dos biocombustíveis.
O livro descreve a gigantesca monocultura de milho no estado de Iowa e volta até a origem da alta produtividade, com raízes na produção de sementes híbridas na década de 30, permitindo a mecanização da lavoura e dando início a um processo que rapidamente transformará os agricultores em reféns - mais do que em beneficiários - da agroindústria.
O fato curioso é que o livro explica como surgiu a lei seca nos EUA. Como havia montanhas e montanhas de milho, era preciso dar uma destinação a todo esse produto. Tudo o que podia ser imaginado de alimento passou a ser produzido com milho, inclusive, vejam só, whisky. Como a produção era muita, o preço do whisky era muito barato. Tomava-se whisky no café, no almoço e no jantar. Nas fábricas, não havia pausa para o café, havia pausa para o whisky. O resultado é que o país inteiro transformou-se em alcoólatras da noite para o dia. Como forma de tentar amenizar isto, baixaram a lei seca.
Ao final da segunda guerra mundial, quando os Estados Unidos detinham imensos estoques de nitrato de amônia para a fabricação de explosivos, a solução encontrada foi o uso intensivo de fertilizantes. Também a indústria de pesticidas se estrutura com base nos estoques de produtos químicos destinados à fabricação de gases venenosos para uso militar. Os excedentes da produção de milho precisam encontrar mercados e logo começam a ser utilizados na alimentação de animais, mesmo dos ruminantes, cujo sistema digestivo não é adaptado ao consumo de cereais.
Seguindo em busca da cadeia produtiva da agroindústria, Pollan viaja até Garden City, no estado de Kansas, e descreve a criação de gado bovino confinado, alimentado com milho, antibióticos e outros medicamentos, suplementos alimentares e estrogênio, gordura liquefeita e uréia sintetizada a partir do gás natural. Trinta e sete mil cabeças numa instalação que na linguagem da agroindústria norte-americana é conhecida como Operação Concentrada de Alimentação Animal (CAFO - Concentrated Animal Feeding Operation).
"Essa instalação se parece como uma cidade pré-moderna, sem espaço, imunda e mal-cheirosa, com o esgoto a céu aberto, ruas sem pavimentação e o ar tornado visível pela poeira. (...) A concentração de animais em meio à falta de higiene sempre foi uma receita para doenças. A única razão pela qual não ocorrem epidemias como nas cidades humanas medievais é o uso intensivo de antibióticos. (...) Essa alimentação dá à carne a textura e o sabor que os consumidores norte-americanos passaram a gostar. No entanto, essa carne é menos saudável para nós, já que contem teor mais elevado de gorduras saturadas e menos ômega-3 do que as carnes do bovino alimentado no pasto. (...) Na medida em que se avança na compreensão desse sistema de produção, torna-se inevitável questionar se o que parece racional não é também uma loucura total".
Este novo modelo de criação do gado deu origem à mais perigosa doença entre os bovinos e que ainda não se tem estudos conclusivos acerca do verdadeiro estrago que faria no ser humano: a vaca louca. Parte da mistura que alimenta o gado nos confinamentos contém gordura liquefeita, gordura do próprio animal que é abatido e que retorna como suplemento dos outros animais (tudo se aproveita). Seria como se fosse um canibalismo bovino. Isso acarreta o “derretimento” do cerébro dos bovinos, tornando-os esponjosos e causando a tão temida doença.
commodity em 4 dólares de alimentos processados, com novas formas e sabores, vendidos em embalagens que atraem o olhar do consumidor, tudo com o apoio de grandes campanhas publicitárias. Para cada caloria de alimento assim processado são necessárias 10 calorias de combustível fóssil.
Daí, o caminho até o McDonald's é denso de truques apoiados em estudos de mercado e na "ciência da alimentação". Foi o esforço para aumentar a receita de cadeias de cinema que, depois de muitas experiências, levou à criação dos imensos sacos de pipoca e copos de soda que hoje estão presentes em todos os locais dos EUA, tendo as crianças como alvo principal. Três em cada cinco norte-americanos têm o peso mais elevado do que o recomendável, um em cada cinco é obeso, e cada criança nascida depois de 2000 tem 33% de possibilidades de desenvolver diabetes.
"Atualmente, 19% das refeições norte-americanas são feitas em automóveis. Refeições compradas sem que a porta do veículo precise ser aberta, comidas sem que o carro tenha que parar, com o uso de uma só mão. De fato, essa é a genialidade dos nuggets de frango: poder consumir sem o uso de prato ou garfo. Não há dúvidas de que os pesquisadores do McDonald's estão neste momento trabalhando para que se possa fazer o mesmo com uma simples salada."
O livro também dá um alerta aos vegetarianos: caçar e depois preparar a comida foi o que deixou nossos cérebros crescerem e ficarem grandes, ao contrários dos outros animais. E para dar conta do funcionamento desta super máquina (aqui o alerta é para os regimistas de plantão) 18% da energia necessária provém somente da ingestão de carboidratos, ou seja, se você não ingerir carboidratos, 1/5 do seu cérebro não funcionará.
Por fim, o alerta aos protetores dos animais (leiam vegetarianos novamente). Deixar uma espécie livre (no exemplo citado, porcos) pode desequilibrar todo um ecosistema, trazendo mais prejuízos do que benefícios, podendo até mesmo, abreviar em demasia a vida dos animais que estão sendo soltos. E vai além. A opção pelo vegetarianismo é causadora do aumento de mortes de certos animais, que até então estavam preservados, mas, com o aumento da plantação de vegetais, tiveram suas vidas abreviadas. Cita como exemplo pequenos roedores que vivem em tocas nos solos e que são esmagados por colheitadeiras e até mesmo pássaros que são mortos pelos pesticidas pulverizados nas lavouras, entre outros.
O livro de Pollan segue por caminhos fascinantes e sua leitura nos faz perguntar se é isso que queremos. A afirmação de que não haverá necessidade de desmatamento para a produção e a exportação de imensas quantidades de biodiesel se baseia na avaliação de que grandes áreas de pastagens podem ser convertidas para monoculturas de oleaginosas com um pouco de modernização de nossa agricultura...Isso, apenas para começar uma reflexão mais profunda sobre estilos de vida na era pós-petróleo.

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